Poeira

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Localização: Lisboa, Portugal

músico-escritor de canções, nascido em 1975 na Praia da Barra, Portugal www.myspace.com/jorgecruzpoeira

sábado, 24 de maio de 2008

Poema Pró Cóboi Precipitado (Ao Jeito Do Manjerico)

Ó meu caro juíz mancebo
Folgo em vê-lo entrar no ringue
Traz bigode afiado
Oxalá ele não pingue.

Inda agora amanheceu
E já quer mexer no coldre
O DiCaprio do Sam Raimi
Queria ser o Wayne do Ford.

Escolhe o Dylan do feitio
Pode ser que tenha a arte
Pelo menos na rasteira
Já vê mérito que farte.

Se estiver vivo ao almoço
E aguentar o casamento
Ofereço-lhe um docinho
Pelo seu bom julgamento.

Depois conto-lhe historinhas
De quem vive onde ela ferve
Pró voyeur se deliciar
Salivando em leito imberbe.

Quando o padre fez as contas
Estava escuro no postigo
Nunca tinha visto o mundo
E afagava o umbigo.

O bebé não vê a queda
Corre e brinca no seu berço
O cóboi traz numa fralda
A harmónica e o terço.

Quando chega o sol posto
Murmura aquela canção:
"Serve de ouro pró bandido
O vinagre de um irmão."

terça-feira, 13 de maio de 2008

Mas Que Tragédia Vai Na Vida Deste Moço!

"João Coração Nº1" está pronto a ser editado. Como o nome indica, é o primeiro disco do João Coração mas é também o primeiro momento (Outubro de 2007 em Sesimbra) em que se encontraram algumas pessoas que, sem aviso, vieram a fazer parte das vidas umas das outras e a colaborar juntas ao longo de 2008 num rol de eventos, concertos e gravações. Bernardo Barata, Tiago Guillul, Samuel Úria, Guel Sousa, Lipe dos Pontos Negros e eu próprio cruzámo-nos ali. Por meras contingências, ficariam de fora desta gravação o Manuel Fúria dos Golpes, o Silas dos Pontos Negros ou o Diego Armés dos Feromona, mas seria destes nomes que o nosso ano de 2008 nas cantorias de Lisboa viria a ser feito.
Nada disto teria sido exactamente assim não fosse o carácter anfitrião do João Coração. E é também desse modo que ele se apresenta ao longo do seu primeiro disco. Como um cavalheiro anfitrião, dividido entre a aventura e a paz. Debatendo-se com conflitos para dentro dos quais nos convida sendo que o que nos oferece é simplesmente esse momento. De intimidade. E de mistério. Algo que a determinada altura podemos pensar que já conhecemos, já entendemos, mas que teremos sempre de deixar em aberto, dado que este Coração move-se a paixão e, como tal, o seu caminho não tem a previsibilidade que é possível descobrir noutros artistas.
Também não tem, talvez, aquele aspecto sólido que esperamos de alguém que se apresente com tal pompa. Mas é aí que reside o seu encanto. A sua surpresa, bravura e generosidade. A música do João Coração cabe naquele paradigma da arte que responde a uma carência de equilibrio. Surge quase como o elemento que faltava para conter as forças da angústia e da fragilidade. A "luz", palavra frequente nestas canções, é o último fim. E ganha uma dimensão religiosa, no seu sentido mais puro. Tal com acontece com o Antony, o Mark Hollis ou o Mark Eitzel, a música do João Coração oferece-nos a antecâmera quente, com cheiro a carne e flores, entre o vazio e a paz. É um momento de revelação que ele entrega com romantismo e altivez. E algum humor acerca de si próprio (que quem já o viu cantar ao vivo nem sempre encontra ou reconhece). Este é o Bravo Coração: «Bravo Coração/ Todo ele é vontade de voar/ Mas a vida não deixou/ Há sempre qualquer coisa/ Sempre a correr/ Para regressar àquela cama/ Mas ali já não há sonhos/ Só uma almofada/ Tem 6 mil canções para encantar/ Mas nada encanta/ Nem mesmo o rouxinol/ Mas que tragédia vai na vida deste moço!»

"João Coração Nº1" será editado pela Flor Caveira à entrada do Verão. É um dos melhores discos portugueses dos últimos anos.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

The Way Of The Samurai (III)

«Some men are prone to having sudden inspirations. Some men do not quickly have good ideas but arrive at the answer by slow consideration. Well, if we investigate the heart of the matter, even though people’s natural abilities differ, bearing in mind the Four Oaths, when your thinking rises above concern for your own welfare, wisdom which is independent of thought appears. Whoever thinks deeply on things, even though he may carefully consider the future, will usually think around the basis of his own welfare. By the result of such evil thinking he will only perform evil acts.»

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A Luz de Turner

Viajo hoje para Londres. Tocarei em festa privada. Toda a gente irá mascarada. E num bar de italianos ligados a negócios misteriosos. A semana passada cantei no Cine-Teatro de Estarreja com os Deolinda e as Tucanas. Esteve lá a minha família toda, avós, pais, irmã e saudosos conterrâneos. O fim de semana foi veranil. Comi caldeirada de enguias e fiquei a olhar para a ria com a dose exacta de satisfação e melancolia. Será a alegria uma expressão melancólica? Algo reticente quanto a palavras, nesta ocasião, passo o testemunho ao incomparável Reverend John Coltrane. Vemo-nos amanhã, às 16h, junto ao Turner na National Gallery.