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músico-escritor de canções, nascido em 1975 na Praia da Barra, Portugal www.myspace.com/jorgecruzpoeira

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Caderno do Átomo (Cap. III)

No primeiro capítulo do Caderno do Átomo escrevi algures em Fevereiro:
«A unidade de um ser pode tornar-se em qualquer coisa que deseje. Qualquer uma, por maior que pareça. A seus olhos e aos olhos dos outros. Por essa ordem. Mas só aos olhos, entenda-se. Tudo não passa de um jogo de percepções.
As coisas, naturalmente, são só as coisas. Porém, no mundo dos homens são definidas pelas suas funções. Daí que quem entenda aquilo de que esse mundo se alimenta, fique imediatamente em posição de conquistá-lo. Não que esse seja um objectivo particularmente interessante.»
Retomo a ideia quase um ano depois.
Há uma secção de artistas e pensadores que não vêem distinção entre forma e conteúdo. De certo modo, defendem que uma coisa é a mesma que a outra, ou que estas são absolutamente interdependentes. Consigo reter-lhes a perspectiva. Mas continuo a preferir o corredor em direcção ao centro das coisas. Aceitando que esse é um lugar onde ninguém tem razão e tudo não passa de um sopro. Simples e essencial.
Para libertar o sopro é necessário eliminar o ruído que nos impede de chegar até ele. Este não é um conceito fácil. Dado que esse ruído como aterro de migalhas é tantas vezes aquilo que alimenta o universo do que nos rodeia e representa. Sem que tenha sido por nós escolhido, este é um tipo de som que inicialmente pode parecer muito atraente. Mas trata-se de um discurso ruidoso que nos escolhe ou rejeita a partir da periferia. Sem sequer visitar o centro. Nem em expediente, nem em férias, nem na véspera de natal. Nunca. Isto não o torna bom ou mau. Torna-o simplesmente desinteressante.
Poderão inquirir: mas quem és tu para falar de um centro abstracto e invisível como se estivesses em posse esquizofrénica da chave para os seus princípios? E a resposta será: ninguém. Sou só um tipo a fazer o seu caminho. Um caminho que traz boas paragens no meio do monte para ceias onde todos estão convidados mas nem todos se podem sentar à mesa. Que venham os desenraízados, os bêbedos e os perdidos. Tragam pão os crentes, os possuídos, os perfeitamente saudáveis, os brutos e os insanos. Sirvam vinho os vaidosos e arrogantes se forem simples no privado. Discursem os originais, os fora-de-moda, os visionários e os cegados pela luz. Os mal vestidos falem-nos das suas roupas. Os bem vestidos riam-se de si próprios que riremos juntos. Sentem-se todos aqueles que são tão diferentes uns dos outros que só podem ter algo a ensinar. Mas que me desculpem certos fidalgos, procuradores e alcaides se sinto não ter nada a aprender com os seus comentários afinados, orgias recalcadas e demais coisas pequenas. É mesmo uma questão de tempo. É que tenho de ir andando.
Até já.

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