Poeira

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Localização: Lisboa, Portugal

músico-escritor de canções, nascido em 1975 na Praia da Barra, Portugal www.myspace.com/jorgecruzpoeira

terça-feira, 31 de março de 2009

O Diabo Na Cruz Segundo Samuel Úria

Se Aveiro fosse cidade grata como Filadélfia, tinha feito uma merecida estátua ao Jorge Cruz. A intensidade do anos 90 de Cruz nada fica a dever ao treino matinal do Rocky Balboa: às costas os Superego; mão esquerda propensa a canções boxeando como um ariete; mão direita em uppercuts nos queixos dos estrangeirófilos, a castigar as costelas dos portuguesófobos.
O primeiro contacto com a FlorCaveira dá-se através da gravação do disco de um velho amigo. Foi o João Coração quem o trancou, juntamente com o Guillul e com o Úria, numa casa sezimbrense. Para além das partilhas musicais fizeram-se também ouvir histórias de guerra: o veterano Cruz partilhou cicatrizes, contou piadas de caserna, poliu medalhas de mérito. Um John Rambo bem recebido. Estava estabelecida a amizade de camarata, a irmandade de armas.
Depois do Jorge se emprestar, a título pessoal, ao disco de Natal “A FlorCaveira Apresenta o Advento”, era chegada a altura de a editora acolher outro desdobramento do artista. O projecto vinha a ser aguçado há algum tempo e emergia os deleites mais pontiagudos do Cruz: a herança portuguesa nas suas manifestações tradicionais invioladas e o nervo puro das canções electrificadas. Aqui os amplificadores funcionam a válvulas e a folclore, há instrumentos acústicos e alquímicos. A tradição com a pungência do rock manda nisto - é o braço forte da Lei. Cobra expulsa do Éden, diabo na cruz.
Para além do Jorge, este “Diabo na Cruz” conta ainda com os talentos musicais de uma inaudita parelha de diligentes Bernardo - o Barata nas vozes e no baixo, o Fachada na viola braguesa e noutras vozes. Depois o par de expeditos João – o Gil nos teclados, o Pinheiro na bateria.
Diabo na Cruz. Cantares de Manhouce e The Clash, Garage e Janita, Tango e Cash.

O Adeus Às Armas

Este blogue fez um ano há cerca de dois meses atrás. Começou com um propósito e cedo se viu ultrapassado pelo cavalgar dos bons acontecimentos. A música em Portugal já pouco precisa das minhas propagandas. Perdeu o seu contínuo aspecto púbere e anda livre como um adolescente: arrogante, irreverente, cheia de amigos e de planos grandiosos. Havia um rio que esbarrava repetidamente nos mesmos diques de nerds e fufas. Um grupo de colegas tratou de o abalrroar estilo arrastão de gangue. Agora será mais difícil não ouvirem os filhos da música de Portugal que conhecem os seus pais, que os visitam alegremente e já são uns homenzinhos. Resta então (e digo-o sem qualquer aspiração a Otelismos extermínicos) que o Canto dos Papagaios se vá esvanecendo. Não que esse em si nos mereça especial atenção. Mas já era hora de erradicar a vergonha de fazer música portuguesa que a minha geração ajudou a instituir.
Podia agora adoptar um estilo conferência de imprensa do Paulo Bento (jogador) para anunciar o pendurar desta bota. Deixar os meus abraços e beijinhos aos que foram acompanhando estes apontamentos esparsos. Relembrar o meu pai desaparecido com lágrimas nos olhos. Acabar por chorar que nem um menino e deixar-vos embaraçados por terem aqui vindo, como por certo terá acontecido noutras ocasiões que isto de blogues não é propriamente um talento nato em mim como o são a culinária ou a cessação de actividade. A verdade é que o meu pai não só não está no céu como anda a reconstruir casas para eu ocupar com a minha mulher e o meu filho que deverá nascer este Junho. Sim, devo-lhe um quinhão de gratidões, after all.
Bons amigos, a aventura continua com o Diabo Na Cruz quando acabo de descobrir que é mais fácil twittar que bloggar. Estarei eu a perder as minhas maiores qualidades de Velho do Restelo?
As últimas palavras deste blogue serão entregues ao meu amigo Samuel Úria que escreveu um press-release sobre o Diabo Na Cruz de fazer corar o Sylvester Stallone.
TéJá
Jorge Cruz

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Rick Quem?

Desde que revi o "BIG" com o Tom Hanks que andava à procura de um trabalho que fosse mais ou menos como escolher brinquedos. A hipótese mais óbvia seria Comentador Sportinguista no Trio d'Ataque. Continha a vantagem de desenvolver amizade com o João Pinto e a desvantagem de seguir as pisadas do Miguel Guedes - mas parece que lá O Estatísticas está de pedra e cal. Acabei então por me inclinar para Produtor de Discos. É tão difícil como ir à gelataria Ben & Jerry's no dia do cliente escolher um copo de 4 sabores. No wonder I'm actually good at it.
Depois do João Coração, dOs Golpes e do João Só e Os Abandonados, segue-se a TV Rural. A isto se chama música para os meus ouvidos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Álbuns Do Ano 2008

A minha lista de álbuns do ano está ordenada por estimativa de número de audições. Não inclui discos portugueses porque são de tipos meus amigos, quase todos. Não inclui discos africanos ou de música sufi porque é difícil comparar terra com betão. Não inclui discos de jazz porque esses não têm comparação. Não é exclusiva a discos de 2008 porque não há cá andar a toque de caixa de edições discográficas. Não tem qualquer tipo de relevãncia a não ser a de partilhar convosco o que andei a ouvir este ano. Que, veja-se de que perspectiva se vir, não foi um ano qualquer. Posso assegurar-vos.


1. ELVIS COSTELLO - This Year's Model
Este é o meu disco do ano. Não poderei dizer propriamente "o que andei a perder este tempo todo", já que não teria havido momento mais certo do que este para me encher as medidas e tornar-se numa major influence pró que aí vem. Enquanto disco é tão perfeito como o "Nevermind", tão contagiante como o "Off The Wall", tão ácido como o "Blonde On Blonde". Tem lugar no Top 20 de Todos-os-Tempos.
2. MY MORNING JACKET - Evil Urges
Jim James: O Cantor do momento no meu book. Tudo aquilo em que toca, ganha brilho. Veja-se a versão do "Goin' To Acapulco" para a banda sonora do "I'm Not There". Há qualquer coisa de ingénuo nestes MMJ, na pureza e nos truques de diversão. Comecei por achá-los um bocado quadrados, mas a coisa entranhou-se. E de que maneira! Uma menção para a assertividade não-humorística das letras - directas ao desnorte emocional do novo milénio. E um aparte acerca da generalidade da crítica que reagiu a este disco com uma daquelas birrinhas infantis que caracteriza o seu habitual estado regressivo de desenvolvimento. "Evil Urges" é um disco muito mais importante do que "Z".
3. THE BLACK KEYS - Attack & Release
Mas que ganda bomba! Se eu quisesse entrar naquela onda publicação-musical-que-escolhe-álbum-do-ano-para-premiar-uma-certa-sonoridade this would be it, sem dúvida! Onde é que este Dan Auerbach ainda vai sacar riffs destes! Aqui está um gajo que fez O Pacto. Encontrou um velhinho numa estrada do Sul que lhe mostrou o caminho para os 50 últimos riffs clássicos de guitarra eléctrica. E o baterista? Que casalinho mais perfeito! Como diria o Ray LaMontagne: "Meg White you're all right/In fact I think you're pretty swell" Mas a verdade é que os Black Keys formaram-se para dar uma abada aos White Stripes.
4. YEASAYER - All Hour Cymbals
Devo dizer que respondo "sim" à pergunta "e a onda de Nova Iorque?". Antes de mais, foi Nova Iorque o cenário do evento traumático transformador do nosso tempo. E esta é uma cidade onde os movimentos que marcaram a cultura pop mundial (beats, folkies, punks) nunca foram vazios. Antes apresentaram artistas ricos, fracturantes e universais. Simpatizo com os TV On The Radio, deixo-me ouvir os MGMT, dou atenção às manigâncias infantilóides dos Vampire Weekend, mas foram os Yeasayer que me deixaram a pensar se seria possível metê-los numa misturadora com o Zeca Afonso, vendo tudo através dos óculos do Costello.
5. BOB DYLAN AND THE BAND - The Basement Tapes
Primeiro foram as canções de protesto, tinham grande atitude e eu era um Sartriano/i de primeira. Depois foram os Highway 61/Bringin' It All Back Home days. Aquilo é que era um novo mundo... Até que conheci uma miúda que me despedaçou o coração e alguém me gravou o "Time Out Of Mind". Desde então tornei-me um fiel mensageiro do Late Dylan. O Sábio, O Solitário, O Arrependido, O Desesperado. A minha vida nunca mais foi a mesma. A dele também não: bastou um livrinho e um documentário para voltar a ser o menino querido dos consensos mundiais. O ano de 2008 foi o meu ano "The Basement Tapes" numa altura em que já sou capaz de dizer 3 frases sem a palavra Dylan. Parece-me o disco certo para formar família.
6. THE LAST SHADOW PUPPETS - The Age Of The Understatement
Sou adepto inequívoco do talento puro do Alex Turner. Ainda que não imune a irritações quando verifico como para ele é demasiado fácil o que para os outros exige grande esforço.
7. KINGS OF LEON - Because Of The Times
Embora me veja como um conservador-classicista aderi a este disco com uma abundância que nunca dediquei ao retro-stoner-"Molly's Chambers"-one. O último "Only By The Night" é uma boring-try-to-outsell-out.
8. CAT POWER - Jukebox
Vi-a no Bla Bla em 2003. Pelos vistos era o Manel Fúria que estava a gritar que aquilo era uma vergonha. E era. Mas para alguns nunca é tarde para sharpen-up. É assim que se fazem versões! E o "Stuck Inside A Mobile" dela também está no top3 das melhores do "I'm Not There".
9. EDDIE VEDDER - Into the Wild
Quando vi o filme pela primeira vez desconfiei das lágrimas que me chegaram. A reconquista da natureza. Os olhos do Sean Penn. Melodias libertadoras na voz do Eddie Vedder. Era como comer carapaus assados no quintal dos meus avós. Não havia distância. Até que os meses trouxeram outras paisagens e foi ficando a vontade de voltar.
10. FLEET FOXES - Fleet Foxes
Ainda estou em fase de descoberta disto. Mas quase não ouço outra coisa. Não só é um óptimo disco como é ainda uma outra resposta para as perguntas que me andei a fazer durante o ano: às quais tento responder em conjunto com os compadres roqueiros do Diabo Na Cruz. Merece este destaque. Barata e Fachada, aprontem-se. Vamos continuar a cantar.
11. VAN MORRISON - Moondance
"It's a marvelous night for a moondance". Tantas vezes.
12. BILLIE HOLLIDAY - Lady In Satin
Comprei o vinil em Londres mas fiquei sem ele numa dessas partilhas separatistas. Foi ano de pôr o cetim em dia. By the way, isto não é um disco de jazz mas sim de classic-popular-song.
13. LEONARD COHEN - I'm Your Man
Demorei a atravessar estes sintetizadores sem sofrimento: em direcção ao álbum mais sólido, portentoso e intocável do mestre Cohen.
14. BOB MARLEY - Exodus
Descobri que afinal ele era grande demais para caber numa esplanada de Verão quando comecei a fumar ganza. Mas quando me deixei disso é que usufruí plenamente da sua grandeza libertadora.
15. TOM WAITS - Mule Variations
Ou Swordfishtrombones, ou Heartatack and Vine, ou Blood Money, ou Heart Of Saturday Night, ou Small Change, ou Alice, ou Orphans, ou Blue Valentine.
16. THE CLASH - The Story Of The Clash
Vi o documentário do Joe Strummer e formei uma banda-exército.
17. SADE - Todos
Sempre.
18. SHARON JONES - Naturally
Este foi o meu ano Rádio Marginal. Não sei porquê... Os saxofones com reverb estiveram em alta. Sharon Jones: entre Aretha e Winehouse.
19. JAKOB DYLAN - Seeing Things
"It´s hard to admit but it's easy to tell/That Evil is alive and well". Este Dylan é um Dylan.
20. BON IVER - For Emma, Forever Ago
Metade das audições deste disco deve-se à defesa veemente do Guillul. Concedo-lhe a razão. Mas ainda acho que este tipo anda a imitar o Fachada.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Caderno do Átomo (Cap. III)

No primeiro capítulo do Caderno do Átomo escrevi algures em Fevereiro:
«A unidade de um ser pode tornar-se em qualquer coisa que deseje. Qualquer uma, por maior que pareça. A seus olhos e aos olhos dos outros. Por essa ordem. Mas só aos olhos, entenda-se. Tudo não passa de um jogo de percepções.
As coisas, naturalmente, são só as coisas. Porém, no mundo dos homens são definidas pelas suas funções. Daí que quem entenda aquilo de que esse mundo se alimenta, fique imediatamente em posição de conquistá-lo. Não que esse seja um objectivo particularmente interessante.»
Retomo a ideia quase um ano depois.
Há uma secção de artistas e pensadores que não vêem distinção entre forma e conteúdo. De certo modo, defendem que uma coisa é a mesma que a outra, ou que estas são absolutamente interdependentes. Consigo reter-lhes a perspectiva. Mas continuo a preferir o corredor em direcção ao centro das coisas. Aceitando que esse é um lugar onde ninguém tem razão e tudo não passa de um sopro. Simples e essencial.
Para libertar o sopro é necessário eliminar o ruído que nos impede de chegar até ele. Este não é um conceito fácil. Dado que esse ruído como aterro de migalhas é tantas vezes aquilo que alimenta o universo do que nos rodeia e representa. Sem que tenha sido por nós escolhido, este é um tipo de som que inicialmente pode parecer muito atraente. Mas trata-se de um discurso ruidoso que nos escolhe ou rejeita a partir da periferia. Sem sequer visitar o centro. Nem em expediente, nem em férias, nem na véspera de natal. Nunca. Isto não o torna bom ou mau. Torna-o simplesmente desinteressante.
Poderão inquirir: mas quem és tu para falar de um centro abstracto e invisível como se estivesses em posse esquizofrénica da chave para os seus princípios? E a resposta será: ninguém. Sou só um tipo a fazer o seu caminho. Um caminho que traz boas paragens no meio do monte para ceias onde todos estão convidados mas nem todos se podem sentar à mesa. Que venham os desenraízados, os bêbedos e os perdidos. Tragam pão os crentes, os possuídos, os perfeitamente saudáveis, os brutos e os insanos. Sirvam vinho os vaidosos e arrogantes se forem simples no privado. Discursem os originais, os fora-de-moda, os visionários e os cegados pela luz. Os mal vestidos falem-nos das suas roupas. Os bem vestidos riam-se de si próprios que riremos juntos. Sentem-se todos aqueles que são tão diferentes uns dos outros que só podem ter algo a ensinar. Mas que me desculpem certos fidalgos, procuradores e alcaides se sinto não ter nada a aprender com os seus comentários afinados, orgias recalcadas e demais coisas pequenas. É mesmo uma questão de tempo. É que tenho de ir andando.
Até já.

sábado, 8 de novembro de 2008

Sem Vaidades A FlorCaveira Seria Só Uma Bor-Land Com Canções Em Português

Os Mentores:

vs.


O Grande Talento:

vs.


A Banda de Rock:

vs.


O Trunfo Melancólico:

vs.



A Contratação de Última Hora Que Salta do Banco Para O Tento Da Vitória:

vs.



E, Finalmente, Os Dissidentes Seguidores De Valentim Loureiro:

vs.

e


18 DE DEZEMBRO HÁ CONSOADA DA FLORCAVEIRA NO MAXIME!

CELEBRA-SE O NASCIMENTO DE JESUS,

E O RENASCIMENTO DO CANÇONETISMO PORTUGUÊS!

É BEM CAPAZ DE SER O TIPO DE FESTA QUE NUNCA MAIS SE ESQUECE.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Faz Agora Um Ano Que Em Sesimbra

Já está à venda o disco do João Coração. De passeio matinal, descobri este video do concerto nos Maus Hábitos algures em Junho deste ano. Esta é a minha predilecta "À Volta Do Rio" com o Coração acompanhado por este vosso bandido no baixo e os bons malandros Eurico Costa (guitarra electrica) e Johnny Pine (bateria).